SEM ANISTIA! Democracia vence golpismo e posse de Anielle e Guajajara vira símbolo de resistência

Quatro dias após a democracia brasileira sofrer o mais duro golpe desde a ditadura militar, as posses das ministras Anielle Franco e Sônia Guajajara se transformaram em mais um ato simbólico de defesa do estado de direito e contra a anistia para os golpistas. 

A ministra da Igualdade Racial lembrou a irmã, a vereadora Marielle Franco, assassinada por milicianos no Rio de Janeiro em 2018 ao lado do motorista Anderson Gomes. Até hoje, 1765 dias depois, ainda não sabemos por ordem de quem. E o novo governo prometeu que resolver esse crime é uma questão de honra.

Pela primeira vez em 500 anos, o Brasil tem uma ministra indígena e um ministério dedicado aos povos originários. A posse de Sônia Guajajara marca uma nova visão do país sobre as suas origens e o seu futuro. As duas posses mais simbólicas entre os 37 ministros de Lula tiveram que ser adiadas devido aos atos golpistas do último domingo.

Ontem, Brasília teve a segurança reforçada após um alerta de que novos atos fascistas estavam convocados. Sob intervenção do governo federal, o esquema de segurança foi infinitamente maior do que no último domingo. Tanto que só dois golpistas atenderam ao chamado e foram à Praça dos Três Poderes. Os outros estavam presos em outro compromisso. O compromisso de pagar pelos crimes que cometeram: são mais de 1100 presos em flagrante só em Brasília. Entre eles, ainda não está o grande chefe do golpismo, que ainda está nos Estados Unidos.

Meninos na Papuda, meninas na Colméia: primeiros golpistas vão pra cadeia por ataques em Brasília

Nos últimos anos, os golpistas atuaram com a certeza da impunidade. Eles achavam que podiam fazer de tudo que não seriam punidos. E parecia que era assim mesmo, diante da inação das instituições. Mas tudo mudou depois que eles resolveram atacar com violência as sedes dos três poderes.

Até por causa dessa certeza de impunidade, está difícil para os fascistas bolsonaristas aceitarem a realidade. A realidade é que centenas deles foram presos em flagrante e vão responder na Justiça pelos crimes contra a democracia. Os primeiros já foram transferidos para os presídios de Brasília: meninos para a Papuda e meninas para a Colméia!

É uma pena que, para isso, precisou que os golpistas invadissem o prédio do Supremo quebrando tudo e até cagassem na Corte, literalmente. Aí, aparentemente, a paciência ou conivência das instituições com os golpistas acabou. 

Além das 1500 cabeças de gado presas no acampamento em Brasília, ontem o ministro Alexandre de Moraes mandou prender o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, que era o responsável pela segurança do DF, e do comandante da PM. O nível de graudez dos golpistas presos está subindo. 

Falta mandar prender ainda o líder de tudo isso. O ex-presidente Bolsonaro, que ontem mesmo compartilhou fake news sobre a eleição nas redes sociais, ainda incitando o movimento golpista de seus apoiadores fascistas. 

Até que enfim! Essa notícia demorou, mas chegou. E chegou justo esta semana, tipo um presente de aniversário para este podcast. Hoje o Primeiro Café comemora dois anos no ar e o presente é ver fascista na cadeia!

Terrorismo bolsonarista em Brasília: estouro da boiada contra a democracia teve conivência da polícia

O terrorismo bolsonarista agiu com organização, financiamento e chamamentos públicos e causou destruição em Brasília na tarde de ontem. Para isso, contaram com a conivência das polícias do Distrito Federal, que permitiram que a Praça dos Três Poderes fosse invadida por milhares de bolsonaristas raivosos. Lá dentro, eles invadiram e destruíram os prédios dos três poderes da república, no golpe mais duro que a democracia brasileira sofreu desde a ditadura militar.

O caráter golpista da baderna bolsonarista era explícito. Eles usaram faixas pedindo intervenção militar e agiram como a gangue de golpistas que são. Obras de arte milionárias foram destruídas, os plenários do Supremo e do Senado foram vandalizados e peças foram roubadas. Do STF, eles roubaram togas dos ministros e um exemplar original da constituição. Do Planalto e do Congresso, roubaram obras de arte e destruíram tudo o que puderam.

O movimento golpista que ocorre há semanas em Brasília foi engrossado por mais de 100 ônibus que chegaram no fim de semana. Apesar disso, a PM do DF mantinha poucos homens no local e não quis parar os terroristas. Pelo contrário, foi a PM do DF que escoltou os golpistas do QG do Exército até a Praça dos Três Poderes. Lá, enquanto os terroristas atacavam os poderes, os policiais tiravam fotos e compravam água de coco.

Lula agiu rápido e decretou intervenção federal para assumir a segurança do DF. O governo, através da AGU, pediu a prisão do bolsonarista Anderson Torres, que respondia pela segurança em Brasília após deixar o Ministério da Justiça de Bolsonaro. Torres, aliás, está na Flórida, nos EUA, mesmo local para onde fugiu Bolsonaro no final do ano. No STF, Alexandre de Moraes afastou o governador do DF e mandou desmontar à força os acampamentos golpistas em todo o Brasil em 24 horas. O Senado e a Câmara suspenderam o recesso e convocaram deputados e senadores para voltarem a Brasília. Muitos terroristas foram presos em flagrante horas após o início da baderna, depois que as forças de segurança perceberam que a conivência estava sendo criticada em toda a mídia. 

Se era um motivo que o governo Lula precisava para não aceitar anistia para esses criminosos e pesar a mão contra o golpismo bolsonarista, agora tudo está resolvido. O estouro da boiada em Brasília justifica ações mais enérgicas das instituições. A nossa democracia sofreu o ataque mais sério desde a ditadura militar e sobreviveu, não pela competência das instituições da República, mas pela burrice dos golpistas. Nas redes sociais, produziram provas contra eles mesmos e agora serão identificados e processados. 

Como as instituições brasileiras deixaram a situação chegar a este nível mesmo após todos os alertas? Os acampamentos golpistas na frente de quartéis foram incubadoras de terroristas fascistas à luz do dia. Nenhum golpista escondeu sua verdadeira intenção nesses meses de movimentos contra a democracia. A versão brasileira do Capitólio era certa e estava sendo planejada há semanas de forma pública. O ex-presidente Bolsonaro sabia e foi conivente, tanto que avisou a pessoas próximas que algo aconteceria neste final de semana. 

Desde 2016, quando o golpe contra Dilma deu início à escalada fascista no Brasil, as instituições têm atuado com covardia contra o bolsonarismo. Tudo foi permitido e tolerado. O Congresso foi cúmplice do governo Bolsonaro e o STF foi covarde por anos. O resultado está aí. E só não foi pior porque os golpistas são limitados.

Será que agora a grande ficha vai finalmente cair? A jornalista Vera Magalhães escreveu no Twitter que “bolsonarista é fascista”, finalmente! A mídia comercial começou a cobertura chamando os terroristas de manifestantes. Aos poucos, foi mudando para radicais, criminosos e, finalmente, terroristas. E o judiciário e o legislativo vão entender que estamos diante de um movimento fascista e antidemocrático e não de pessoas apenas lunáticas? 

Já faz anos que o fascismo brasileiro está mostrando suas verdadeiras intenções e, nesse período, tanto as instituições quanto a mídia resistiram a chamar as coisas pelo nome e agir com força para evitar o que aconteceu ontem em Brasília.

#458 Um podcast pela família: confira o nosso especial de Natal

O nosso programa de hoje é dedicado à família. Sim, nós somos defensores da família! Mas, diferente de outros aí, nós defendemos todas as famílias e não apenas as nossas.

Você provavelmente vai ouvir este episódio enquanto organiza a casa para receber os parentes de longe ou, quem sabe, na estrada a caminho da casa dos seus familiares para passar o Natal.

Quando falamos em família, não estamos nos referindo apenas aos nossos parentes de sangue. Falamos também sobre as nossas famílias por afinidade – os nossos amigos e amigas – e sobre as nossas famílias involuntárias – aqueles grupos que se formam em torno de um assunto em comum e acabam virando uma grande família, como a comunidade que nos ouve todos os dias.

Sabemos que muitos têm até ranço de quem diz que defende a família porque o movimento político fascista que dominou o Brasil nos últimos quatros anos estragou, além da bandeira e da camiseta da seleção, também as nossas declarações de amor às nossas famílias.

Hoje, quando alguém diz que é “pela família” soa quase como um palavrão. Mas nós vamos tomar de volta também o direito de dizer que a gente ama as nossas famílias – todas elas!

O Primeiro Café é pela família, sim! Só que, diferente deles, é por todas as famílias, de todos os tipos e formatos: desde famílias compostas por pai, mãe e filhos, famílias homoafetivas, famílias sem conge, famílias sem filhos, famílias de amigos, de colegas, de parceiros, de pets etc. O que define uma família não é o sangue, mas sim o amor que nos une. E amor é o que não falta aqui na nossa comunidade.

E a nossa equipe, que hoje participa em peso dessa edição, também é uma família. Temos todos os pré-requisitos: eu sou o tio do pavê, a Rafaela é a mãe Rafa, Rachel e Wal são as irmãs que nos fazem viajar, Paula é a irmã sensata que nos puxa para a realidade, o Manuca é aquele primo que a gente adora quando vem visitar, o Thiago é aquele que nos estimula a organizar a vida, o Edu é nosso irmãozinho mais novo, a Andressa e a Danielle são as primas maneiras, o professor Viaro e a Ana são os parentes que sempre têm algo a nos ensinar, a Carla é a prima do contra que a gente ama, A Adriane é a nossa futura nona e temos até o nosso casal, a Maria Clara e o Lielson.

Nos últimos tempos, alguns amigos e amigas nossos aqui da equipe e da comunidade passaram por momentos nada fáceis, perdendo pessoas importantes. Muitos foram vítimas desse governo criminoso que está chegando ao fim. E nós estivemos sempre juntos, nos abraçando mesmo que virtualmente e, basicamente, presentes uns para os outros, como deve ser.

E é por isso que hoje, a família do Primeiro Café – que vai crescer em 2023 – está aqui hoje toda reunida para abraçar os nossos considerados e as nossas consideradas que nos acompanharam o ano inteiro!

#331 A tragédia social na onda de frio e inação do poder público

(Foto: Ale Ruaro)

Faz frio em boa parte do Brasil e as baixas temperaturas fazem milhares de vítimas. Só na cidade de São Paulo, mais de 30 mil pessoas moram na rua e ficaram expostas à sensação térmica negativa nas últimas madrugadas. Como a gente sabe, não dá para contar só com o poder público para auxiliar essas pessoas. Pelo contrário, até porque, na terça, um dia antes da chegada da onda de frio, a polícia desalojou, a mando da Justiça, cerca de 100 famílias, com 79 crianças, de um hotel abandonado na rua Augusta.

Enquanto a polícia fazia reintegração de posse de prédio abandonado colocando famílias inteiras ao relento, voluntários como o padre Julio Lancelotti passaram a madrugada nas ruas distribuindo cobertores, acolhendo e oferecendo ajuda para as pessoas em situação de rua. Uma pessoa morreu em um abrigo depois de passar a noite no frio. Outra passou mal e foi atendida pelos voluntários. Em reportagem da TV Globo, o Padre Julio se emocionou e se revoltou com a situação.

No episódio de hoje conversamos com a jornalista e ativista dos direitos humanos Valéria Jurado, que realiza a ronda dos cobertores em São Paulo com ajuda de amigos.

#330 Terceira via “não é player” na eleição presidencial

A terceira via de direita não é player na corrida presidencial desse ano no Brasil. Hoje era o dia marcado para os partidos União Brasil, PSDB, MDB e Cidadania anunciarem uma candidatura única. Mas o União Brasil desembarcou da aliança há alguns dias. E ontem, o PSDB fez uma reunião para tentar juntar os cacos do partidos. Nas televisões de notícias, jornalistas passaram o dia debochando na cara dura da confusão no ninho tucano. A reunião terminou sem definições. Eles ficaram de apresentar uma pesquisa hoje para apontar se Simone Tebet ou João Doria teriam mais chances. E o anúncio do nome único deve ser adiado.

A outra terceira via, do Ciro Gomes, que não gosta de ser chamada assim, também dá sinais de descontrole. Ontem, o pré-candidato do PDT passou quase uma hora respondendo o perfil satírico que o humorista Gregório Duvivier fez sobre ele. Nas respostas, Ciro chegou a acusar o apresentador do Greg News de racismo contra o Cabo Daciolo. É claro que tanto Ciro quanto as viúvas do Bolsonaro do PSDB, do MDB, do União Brasil e do Cidadania vão dizer que ainda é cedo, que muita coisa vai acontecer, mas a verdade é que a cinco meses da eleição, está evidente que a disputa será mesmo entre Lula e Bolsonaro. Faça a sua escolha. O fracasso da terceira via é um dos assuntos do programa de hoje.

#329 Ritos de passagem da semana na política brasileira

A vida é feita de ritos de passagem, aqueles que marcam momentos importantes na vida das pessoas. Esta semana, a política brasileira vai vivenciar alguns deles.

Primeiro, tem o nascimento: nasce a esperança de mandar o Bolsonaro para a lata de lixo da história – ou para a cadeia – já no primeiro turno.

Depois, tem o casamento do Lula com a Janja, algo que só interessa aos dois, portanto felicidades ao casal e não falaremos mais disso – até porque não fomos convidados (#chateado).

Vai ter também a assinatura dos papéis de um divórcio, o da terceira via. Os partidos viúvas do Bolsonaro que ensaiaram uma união para lançar candidatura única não se acertaram e a aliança acabou.

E, por fim, o velório. O velório do PSDB, que depois de ensaiar golpismo com Aécio contestando o resultado das eleições, de se unir ao Bolsonaro no BolsoDoria, agora virou um grupo de políticos empoeirados que estão mais perdidos que tucano atrás de voto.

#328 Eleições: o debate Ciro x Duvivier e o novo capítulo da crise no PSDB

Nós crescemos ouvindo que política, religião e futebol não se discute. Por não disputar o futebol, episódios como o ataque racista de um jogador português do Corinthians contra o capitão do Internacional que aconteceu no fim de semana se repetem com uma frequência reveladora. Por não discutir religião, permitimos que pastores picaretas enganem o povo desamparado vendendo terreno no céu, façam campanha política para fascista, normalizamos o acobertamento da pedofilia pela Igreja Católica e as guerras que têm como pano de fundo questões religiosas.

E, por não discutir política, bem, estamos onde estamos. A política está em tudo: no futebol, na religião, no preço das coisas, nas regras da sociedade, na rua, na chuva, na fazenda, numa casinha de sapê. Não discutir política nos joga num limbo civilizatório cujos resultados estão aí para quem quiser ver. É por isso que esse podcast quase só fala de política. E continuará falando. Política é, como todos os dias, um dos nossos assuntos de hoje. Tem o debate entre Ciro Gomes e o humorista Gregório Duvivier e o novo capítulo da crise do PSDB.

#327 TSE avisa que milico não dá palpite em eleição

Hoje é sexta-feira 13 e você sabe o que isso significa? Significa que, ao longo do dia, muita gente vai perguntar se você tem superstições ou se você gosta de assistir filmes de terror. Eu não gosto de filmes de terror, mas assisto todos os dias, pelas oito e meia da noite. É Jornal Nacional que chama. O noticiário da Globo – e outros – tem sido o maior filme de terror dos brasileiros nos últimos três anos e meio. A pior parte é que não é ficcional. Em instantes você vai ouvir, no Café Expresso de Notícias, o resumo do terror do dia.

Antes, quero destacar apenas uma das notícias desse filme de terror de mau gosto que vivemos: os ataques do Bolsonaro, com apoio das Forças Armadas, ao processo eleitoral, porque ele sabe que vai perder. Ontem o presidente do TSE subiu o tom e disse que quem trata de eleição são as Forças Desarmadas. Milico não tem que dar palpite em eleição porque a gente também não dá palpite na pintura de meio-fio. Mas a Forças Desalmadas estão ensaiando o golpe a mando do presidente, talvez com energia extra pela mistura de leite condensado com Viagra. Isso é sério, é terrível, mas ao mesmo tempo é ridículo. E é justamente o lado trash dessa história de terror que vai ficar para o futuro.

#326 Ciro diz que vai até o fim após pedidos para desistir

A partir de agora, com a campanha eleitoral se intensificando no Brasil, cada um vai viver no seu universo particular. Tem o Lulaverso, onde a aliança com o ex-tucano Geraldo Alckmin é vista como uma grande jogada política e não como uma concessão ao neoliberalismo. Tem o Gadoverso, onde as pessoas dizem que o Brasil está muito melhor que o Canadá, por exemplo, mas também acreditam em outras histórias tão absurdas quanto essa, como a darkroom da Justiça Eleitoral. E tem o Ciroverso, onde a turma boa jura que Ciro vai vencer a eleição contra Lula no segundo turno, ignorando as pesquisas que mostram o pré-candidato do PDT com metade das intenções de votos que teve em 2018.

E nem tente entrar em um desses universos particulares e debater algo que eles não concordam. Você vai ser xingado até a sua oitava geração. Em comum entre esses mundos paralelos dos militantes fanáticos de cada candidato está, além da agressividade e histeria, o descolamento da realidade. Eles não percebem que, na pesquisa divulgada ontem, quando o entrevistador pergunta em quem o brasileiro vai votar sem citar os nomes dos pré-candidatos, 45% ainda não sabem. Ou seja, quase metade das pessoas não estão nesses universos particulares e ainda não estão preocupados com a eleição.

Ontem, num desses universos, rolou dedo no olho e gritaria. Isso porque a pesquisa Quaest revelou que, sem Ciro Gomes, Lula venceria no primeiro turno. Aí muita gente pediu publicamente que Ciro desista da candidatura – o que eu acho uma bobagem, todos os partidos têm direito de ter candidaturas mesmo que não tenham votos, e também acho errado, porque a candidatura do Ciro é importante porque tem propostas claras e porque equilibra um pouco o sentimento com relação ao Lula. Sem o Ciro, Lula não receberia críticas certeiras e ouvir isso é importante para evitar o endeusamento do ex-presidente. Mas, como era esperado, a turma boa do Ciro reagiu com histeria e xingamentos. O Ciroverso viveu uma espécie de descontrole ontem.